Esta será a rede daqueles que sabem ou antecipam (com muitas e boas razões) que o nosso modo de vida sofrerá muito em breve grandes transformações. São ainda possíveis mudanças que não nos sejam impostas. Mudanças onde a simplificação da vida em todos os domínios acompanhe o progresso geral da equidade. É possível sair da economia do desperdício sem desperdiçar vidas. É possível sobreviver à mudança climática se deixarmos para trás a agropecuária industrial, as viagens aéreas a qualquer pretexto, o culto do automóvel, o comércio intensivo a longa distância, o mito das soluções high-tech… Estes apenas alguns exemplos da droga dura mais perigosa e difundida do nosso tempo: o crescimento. Para isso precisaremos de nos reunir em modos de vida mais locais e comunitários, precisamos de sair da dicotomia entre cidade e campo, precisamos de discutir e aprender a sobrevivência nas condições crescentemente adversas que aí vêm.
 
Não há nenhuma heroicidade em estarmos aqui, apenas a honesta interrogação dos factos e a indispensável abertura a uma intuição que hoje começa a atingir muitos de nós. Por um lado, os factos estão disponíveis: a aceleração da degradação do ambiente é acompanhada por «medidas» que são ineficazes porque se recusam a tocar no produtivismo; a intuição, por outro, encontramo-la em todos aqueles que, querendo mudar de caminho, não sabiam como nem com quem fazê-lo. É por isso que entendemos que uma Rede de Decrescimento deve ser um espaço de apoio mútuo, uma rede de partilhas e um vislumbre das formas como poderemos construir as experiências de resiliência futuras.
Esta mensagem dá também conta dos encontros que realizámos no Porto, no dia 7 de Julho, com a presença dos companheiros da Rede do Decrescimento da Galiza, o Miguel Anxo Abraira e a Iolanda Teijeiro Rey. Nesse dia, passaram quase cem pessoas pelas duas sessões. Destas resultaram perspectivas várias de iniciativas futuras, de que aqui vos começamos a dar conta.

Tínhamos conhecimento da constituição desta Rede e dos preparativos de um Congresso do Decrescimento na Galiza, que terá lugar em Ferrol, nos dias 6 e 7 de Outubro. Sabendo nós que haviam já sido realizados dezenas de encontros preparatórios em toda a Galiza, pareceu-nos que se justificava estendê-los ao norte do país, prolongamento de uma mesma bio-região. As sessões, moderadas por Jorge Leandro Rosa e Álvaro Fonseca, foram excelentemente conduzidas pela Iolanda e pelo Miguel, que não só apresentaram algo do historial decrescentista na Galiza, mas também enunciaram as grandes linhas do mundo em que estamos: sociedades capturadas pelo produtivismo, pelo sexismo e pela destruição dos territórios e das culturas autóctones.
Houve vivo debate em ambas as sessões, tendo sido discutidas muitas das interrogações que nos podemos colocar quando perspectivamos o fim deste tipo de sociedade e a possível emergência de uma outra, que permita a sobrevivência dos humanos e dos outros seres vivos.

Queremos alargar esses debates, ao mesmo tempo que continuamos a tecer uma rede em Portugal. Mas porque as redes se interligam entre si, teremos no dia 5 de Outubro, véspera do início do Congresso de Ferrol, uma reunião Galiza-Portugal onde lançaremos as bases de uma cooperação entre os movimentos decrescentistas dos dois lados da fronteira, favorecendo a entreajuda e a cooperação, dimensões basilares do decrescimento.

Em breve vos daremos conta dos desenvolvimentos em torno do Congresso e outras iniciativas em preparação, incluindo um encontro a ter lugar já em Setembro em Lisboa.
Se estão noutros pontos do país e querem aí organizar, mais adiante, um encontro local do decrescimento, escrevam para:
encontrodecrescimento@gmail.com


Saudações decrescentistas.